ESCOLA SECUNDÁRIA DE D. DUARTE

 

TIMOR

E AS SUAS

ÁGUAS

 

Autores:

9º Ano, turma A
Álvaro Daniel S. S. Rodrigues - Ana Carolina Campeão Tavares - Andreia Filipa Leite L. Amaral - Carla Sofia Alves Soares - Filipe da Silva Arede - Joana Branco de C. Braga Maia - Joana Filipa da Silva Robalo - João Pedro Facas Custódio Figueira - João Vasconcelos Miranda Santos - Joel Alexandre Eloy G. Borges - Luís Miguel Carvalho Meneses - Marisa Isabel Teixeira Vilela - Marta Manuel Baptista Tadeu - Nádia Alexandra Duarte Abrantes - Paulo Alexandre dos Santos Nunes - Ricardo Jorge C. Carvalho Santos - Rita Alexandra R. dos Santos - Rute da Conceição Pinho Penetra - Sandra Alves Mendes - Sara Cristina Paulino - Sérgio Fernandes da Silva - Sérgio Manuel de Jesus Oliveira - Sílvia Madeira Salgueiro - Sofia Isabel Lourenço da Cruz - Tânia Elisabete R. dos Santos Pereira
Com o apoio de Sérgio Bruno Gomes Tavares (prof. estagiário de História).

 

Coimbra, 28 de Dezembro de 1997 


 

 

ÍNDICE

 

1. A água na cultura espiritual timorense: lendas e poesia.

2. A água na economia local e no quotidiano das populações: as actividades relacionadas com a pesca, as embarcações e as alfaias  piscícolas

3. Os recursos naturais marítimos: a importância da riqueza petrolífera do Mar de Timor

4. O valor estratégico dos estreitos de Ombai-Wetter para a marinha de guerra

5. Bibliografia

 



 
 
 

1. A água na cultura espiritual timorense: lendas e poesia

O crocodilo que se fez Timor
A lenda narra a história de um crocodilo; mas um crocodilo sonhador, que um dia sonhava ser alguém. Sonhava crescer, ter um tamanho descomunal, mas na verdade era tudo estreito à sua volta, somente o sonho dele era grande. Vivia num pântano com as águas paradas, pouco fundas, sujas, abafadas por margens esquisitas,  indefinidas e sem abundância de alimentos; era um sítio onde o crocodilo não poderia realizar o seu grande sonho - crescer. Passaram-se séculos e séculos, e o crocodilo... sozinho, abandonado, e a passar fome. Começava a sentir uma fraqueza que lhe tirava o ânimo e os seus olhos iam encerrando e já quase não podia levantar a cabeça e abrir a boca. O crocodilo vivendo nesta situação, reuniu todas as sua forças para ir procurar comida; mas essas forças eram tão poucas que não davam para tanto. E ficou sobre a areia ao pé do charco, estendido; até que passou um rapaz - um rapaz também sonhador -, que ao ver o crocodilo naquele estado, prontificou-se a ajudá-lo. Levou-o até ao charco; e o crocodilo agradeceu prometendo levá-lo um dia pelo mar fora. O rapazinho gostou da ideia - era esse o seu grande sonho.
 
 Passado algum tempo, o rapaz foi ter com o crocodilo, mais gordo e bem alimentado, pedindo que este realizasse o sonho prometido. E o crocodilo realizou... Dia e noite, noite e dia, nunca pararam, viam ilhas de todos os tamanhos, de onde as árvores e as montanhas lhes acenavam e as nuvens também. Não sabiam se eram mais bonitos os dias e as noites, se as ilhas se as estrelas! Caminharam, navegaram, sempre voltados para o sol, até o crocodilo se cansar... Mas entretanto já cansado, virou-se o crocodilo para o rapazinho e disse-lhe que não podia mais e que o seu sonho tinha acabado. Mas o rapazinho não quis aceitar o que lhe dizia - o seu sonho ainda não tinha terminado! Ainda o rapaz sonhador não tinha dito a ultima palavra quando o crocodilo aumentou de tamanho, e sem nunca perdendo a sua forma inicial transformou-se numa bonita ilha, carregada de montes, de florestas e rios... por isso Timor tem a forma de um crocodilo!
 Mas, não é um crocodilo qualquer... é um crocodilo sonhador...
 
 
 
 
 
 
 O resto da terra
 
 Era em noites como aquela em que os velhos contavam histórias.
 Tinha chovido muito , tinha chovido tanto que as  terras tinham ficado imersas nas águas.
 Sobreviventes da tragédia, metidos num barco, vogavam ao deus – dará. Contra a maré, chegaram a Timor. A água não tinha a mesma cor que nos outro sítios.
 Foi então que o chefe dos infelizes mandou lançar todas as redes que tinham.  As redes não trouxeram peixe, o que significava que não estavam em mar, mas sim sobre uma terra mergulhada nas águas da chuva.
 Levados ao sabor da corrente chegaram ao Ramelau (cordilheira central de Timor), que ficava poucos palmos abaixo do barco. Daí surgiu uma palmeira que não tinha ficado submersa e nela um ninho de barro feito por um vespão. O arrais mandou que o desfizessem e mandassem o seu pó sobre as águas. À medida que o pó caía, as águas desciam. Dois homens lançaram-se a nado, um para Sul, outro para Norte, levando cada um uma mulher e uma tábua do barco.
 Cada mulher empurrou as tábuas até que estas se transformaram nas praias de Timor. Os dois homens lançaram o pó  , que caiu num dos primeiros píncaros que apareceram chamando-lhe Raí Récin – o resto da Terra.

 
 
Ergue o seu braço numa luta impotente,
Destrói a flor que nasce
Escutou os seus passos que julgou serem multidões¼
Viu na escuridão vassalos, rendeu-se
 

Mas o Homem não sabe chorar, vendeu seu rosto
Mas o Homem não sabe chorar, vendeu suas lágrimas
 
 
E as estátuas também choram
E as pombas também choram
E os herois também
choram
E os homens também choram
 
 
       E os crocodilos também choram...
 
 
                                                                   "mocamfe"
 
 
 
 
 
 
 





 

 



 

2. A água na economia local e no quotidiano das populações
 
 

A ilha de Timor é rodeada por uma linha de coral que constitui a plataforma continental. A zona mais baixa não é perigosa já que a linha de coral não deixa passar os tubarões. 

 

Uma das belezas, entre muitas, de Timor é o pôr-do-sol com o mar por horizonte. 

 

 
 
 

Outra das suas atracções são as praias com águas muito quentes. 

A actividade da pesca
 
 Timor, cuja capital é Díli, é banhada por águas calmas e muito quentes, característica das águas do Pacifico Sul. Estas águas são muito ricas em fauna marítima. Os seus peixes são multicoloridos, e alguns em especial são o meio de subsistência dos habitantes da ilha. O peixe apanhado para alimentação dos habitantes é congelado logo após a pesca, dada a alta temperatura da água.
 Apesar de a pesca ser pouco praticada pelos timorenses, é maioritariamente na costa norte que o povo timorense mais se dedica a essa actividade.
 A jamanta, o cachalote e o pequeno baleote são apenas algumas das espécies caçadas ou pescadas.
 À actividade piscícola surgem associados diversos rituais em honra dos espíritos.
 A pesca na lagoa Bé-Malai, que não passa sem o seu ritual denominado sau-biu (em língua Kemak). É realizado alternadamente pelos grupos étnicos Kemak e Belos. Um búfalo e um porco são sacrificados, para que o sangue deles se espalhe pela lagoa, sobre um sussurro crescente de vozes, cantos em uníssono e bater de gongos e tambores. Logo a seguir, os homens lançam as suas canoas para a água e ensaiam gestos da faina.
 Pode-se explicar o facto de os timorenses não comerem algumas espécies de peixes através do conhecimento da mitologia maubere. O camarão porque representa os espíritos das águas, a enguia porque está relacionado com um mito que conta a história de um velho que matou uma enguia quando estava a limpar a sua horta. Apanhou-a, cozeu-a, e a meio da cozedura ouviu uma voz da panela, da enguia, que ameaçava vingança. O velho não a levou em consideração, e comeu-a com os amigos mas... eis que já ao cair da noite surgia uma enorme vaga de maré que engoliu a população inteira!
 
 
 

 O barco
 

Pode parecer estranho mas actualmente os timorenses são um povo pouco marinheiro e pescador. São reduzidas as suas incursões marítimas.  Nos barcos usados destaca-se  São porém casas com partes semelhantes a lemes e outras partes dos barcos. herdeiros de uma longa tradição de navegação, que demonstram através de mitos, de pinturas, e até na forma de algumas das suas 
Embarcação Tipica de Timor-Leste: uma piroga de duplo balanceiro,  de vela rectangular   

 
 
 
 

 



 
 
 

 3. Os recursos naturais marítimos: a importância da riqueza petrolífera do Mar de Timor
 
 

 O Mar de Timor, situado entre Timor e a Austrália é o refúgio de uma enorme riqueza do povo timorense - o petróleo.

   

As reservas petrolíferas que aí encontradas contam-se entre as vinte maiores do mundo.
 Vem sendo dito que a Indonésia "assegurou" o silêncio de determinados países oferecendo algo em troca , algo que pudesse interessar tanto militar como economicamente, a esses mesmos países. Objectivamente, no dia 11 de Dezembro de 1989 , foi assinado entre a Indonésia e a Austrália , o chamado "Timor Gap Zone of Cooperation Treaty" (o Tratado de Cooperação para o Intervalo da Fronteira Marítima de Timor ainda não Determinada) Nele ficou referido que assim se removeria "uma fonte potencial de conflito bilateral ou regional". O facto é que a Austrália concordara em reconhecer a anexação de Timor-Leste de maneira a poder haver negócio conjunto, austro-indonésio, nna exploração das reservas petrolíferas do Mar de Timor. O povo de Timor-Leste não entrou nas cogitações dos governantes dos dois países...
 Portugal denunciaria o acordo austro-indonésio no Tribunal Internacional de Justiça, sem resultar qualquer efeito. Uma das razões alegadas pela Austrália foi a de nunca Portugal ter dado a conhecer qualquer interesse, antes de 1975, sobre a plataforma marítima . Consequentemente a Austrália não aceita a alegação de que os timorenses tenham quaisquer direitos de soberania permanentes sobre os recursos de plataforma marítima do Intervalo. Resumidamente poderíamos considerar que o ponto de vista do governo australiano demonstra uma interpretação do direito internacional segundo a qual os actos de agressão podem ser ignorados e que os violadores do direito internacional podem tornar-se os legítimos titulares do território de que se apoderaram.
 
 



 
 
 

 4. O valor estratégico dos estreitos de Ombai-Wetter para a marinha de guerra
 
 Os estreitos constituem, desde sempre, passagens que ora facilitam ora dificultam enquanto passagem entre dois espaços, para o transporte, quer de pessoas, quer de mercadorias.
 Os estreitos de Ombai e Wetter, situados entre Dilí e a ilha de Ataúro tornaram-se de grande importância por virtude das suas características de navegabilidade e de profundidade.

 

No contexto da guerra fria e em específico dos conflitos localizados no sueste asiático, os estreitos de Ombai e Wetter foram considerados de grande importância geo - estratégica para a marinha de guerra norte-americana. A influência soviética avançava perigosamente para sul face às sucessivas derrotas políticas e militares dos EUA em Laos, no Vietnam e no Cambodja. Para os E.U.A restava a Indonésia como o último bastião do anticomunismo no sueste asiático. Por outro lado, os estreitos de Ombai-Wetter serviam da melhor maneira para impedir o avanço da frota marinha soviética. Seriam necessários oito dias a mais para que a frota submarina nuclear dos E.U.A, servindo-se alternativamente dos estreitos de Lombok e de Sunda, pudesse passar do Oceano Índico para o Pacífico. Por má coincidência para o futuro do povo timorense, a questão assumiria maior acutilância para os E.U.A na altura mesma em que Timor-Leste atravessava graves problemas internos (entre a população autóctone por um lado, e face à actuação portuguesa no processo de descolonização, por outro) e os Indonésios ultimavam os preparativos para a invasão. No dia 7 de Dezembro de 1974, Henry Kissinger, secretário de estado dos EUA e Gerard Ford, o presidente, reuniram-se com o presidente da Indonésia, Suharto, em Djacarta. No dia seguinte aconteceu, com conhecimento prévio dos EUA, a invasão de Timor-Leste pela Indonésia, sob o argumento de pacificação do território. O desejo dos EUA de poderem contar com a Indonésia como um aliado e de poderem também gozar de livre passagem no território e águas indonésias tornaram os norte-americanos cúmplices do que doravante se iria passar no território timorense.
 A confirmação destes factos seria dada na primeira metade da década de 90 pelas investigações do Instituto de Altos Estudos Estratégicos de Londres, e pelo próprio Henry Kissinger...
 
 



 
 

 5. Bibliografia

- CAMPOS, J. A. Correia de, Os mitos e a imaginação contista ao estudo das origens do povo timorense, Lisboa, edição de autor, 1973.

- CINATTI, Ruy, Motivos artísticos timorenses e a sua integração, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical – Museu de Etnologia, 1987.

- DOSSIER TIMOR-LESTE, Porto de Mós, Escola Secundária de Porto de Mós, 1992.
Borja da Costa, 1987.

- DUARTE, Jorge Barros, Timor: ritos e mitos ataúros, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa – Ministério da Educação, 1984.

- JOLLIFFE, Jill, Timor - Terra Sangrenta, Lisboa, Edições " O Jornal ", 1989

- PASCOAL, Ezequiel Enes, A alma de Timor vista na sua fantasia: lendas, fábulas e contos, Braga, Barbosa e Xavier, Lda., 1967.

- PIRES, Mário Lemos, Descolonizaçãode Timor – missão impossível ?, Lisboa, Publicações Dom Quixote, col. Caminhos da Memória 1991.

- MAGALHÃES, António Barbedo de, Timor Leste: terra de esperança, Porto, Reitoria da Universidade do Porto, 1992.

- POVOS DE TIMOR, POVO DE TIMOR: VIDA, ALIANÇA, MORTE, Lisboa, Fundação Oriente -Instituto de Investigação Científica Tropical, 1992.

- SYLVAN, Fernando, Timor – Cantolenda Maubere, Lisboa, Fundação Anstronésia

- TAYLOR, John G., Timor – A história oculta, Venda Nova, Bertrand Editora, 1993.